quinta-feira, 4 de dezembro de 2008


Ela nunca soube estabelecer uma relação com os outros. Quando era criança, estava sempre só... Numa tarde de um dia claro de julho, enquanto nas praias, os turistas se divertem sem se preocuparem com outros dias de sol, em Paris, pessoas atormentadas com o calor contemplam os primeiros fogos de artíficio tradicionais. Amélie Poulain, a quem chamamos madrinha dos esquecidos, ou Madona dos mal amados, sucumbe ao seu cansaço extremo. Pelas janelas de uma Paris atormentada de dor, milhões de anônimos em luto acompanham o cortejo e expressam em silêncio a dor imensa de se sentirem órfãos. Destino estranho esse, de uma moça privada de si mesma, mas tão sensível aos encantos discretos das coisas simples da vida... Como Dom Quixote, ela resolveu atacar o implacável moínho das aflições humanas... Batalha já perdida que consumou prematuramente sua vida. Com 23 anos apenas, Amélie Poulain, exausta, deixou sua curta existência definhar de remorço com os problemas do universo. Mas foi aí que lhe ocorreu a dor lancinante de ter deixado morrer seu pai, sem nunca ter tentado dar a esse homem asfixiado o sopro de ar que ela conseguiu dar a tantos outros.