quinta-feira, 22 de maio de 2008


Dar não é fazer amor


Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido. Mas dar é bom pra cacete... Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca, te chama de nomes que eu não escreveria, não te vira com delicadeza, não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom... Melhor do que dar, só dar por dar; Dar sem querer casar, sem querer apresentar pra mãe, sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral, te amolece o gingado, te molha o instinto. Dar porque a vida é estressante e dar relaxa; Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã; Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito. Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro... Dar é bom, na hora, durante um mês. Para os mais desavisados, talvez anos.


Mas dar é dar demais e ficar vazio. Dar é não ganhar... É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro, é não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir, é não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: "Que que cê acha amor?". É não ter companhia garantida para viajar; É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia. Dar é não querer dormir encaixadinho, é não ter alguém para ouvir seus dengos... Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor, esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar. Experimente ser amado...

' Luis Fernando Verissimo

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